Cervantes, Borges e eu: quem é o autor da Constituição?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21119/anamps.42.407-424

Palavras-chave:

direito e literatura, constituição, constituinte, “mise-en-abyme”, interpretação constitucional.

Resumo

A literatura pode ensinar-nos muito sobre o direito, quando, por exemplo, utilizamos o conceito de autor para compreender o desenvolvimento de textos normativos. Esse conceito cria uma tarefa para o campo de estudo do Direito e Literatura: determinar quem é o autor da Constituição, e como é possível ao leitor do texto constitucional reconhecer-se no lugar de seu autor. Esse problema, que opõe os autores do originalismo e da living constitution, pode ser melhor compreendido se concebermos o texto constitucional como um espelho (mise-en-abyme): ainda que elaborado pelo poder constituinte originário, o que ele reflete é quem de fato se olha em tal espelho. A partir dessa perspectiva, proponho que a Constituição seja compreendida a partir da tensão entre seu sentido e sua referência (ou denotação).

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Biografia do Autor

Marcelo Galuppo, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - Brasil Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) - Brasil

Doutor em Filosofia do Direito pela UFMG. Professor da Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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Publicado

2018-12-30

Como Citar

GALUPPO, M. Cervantes, Borges e eu: quem é o autor da Constituição?. ANAMORPHOSIS - Revista Internacional de Direito e Literatura, Porto Alegre, v. 4, n. 2, p. 407–424, 2018. DOI: 10.21119/anamps.42.407-424. Disponível em: https://periodicos.rdl.org.br/anamps/article/view/428. Acesso em: 11 maio. 2024.

Edição

Seção

Artigos