‘Sair ao outro’: afetividade e justiça em “Mineirinho”, de Clarice Lispector
DOI:
https://doi.org/10.21119/anamps.21.123-145Palavras-chave:
Clarice Lispector, compromisso literário e direitos humanos, alteridade, afetividade, cultura literária do direitoResumo
Clarice Lispector (1920-1977), de formação universitária em Direito, proporciona em sua crônica Mineirinho um exemplo representativo de como seja possível articular as alternativas de expressão literária a partir de material de caráter jurídico. A abordagem jurisliterária desse texto, com emprego da perspectiva analítica do “narrativismo jurídico”, revela de que modo a construção de sentido no relato dos fatos é a “anormalidade da exceção”. A crônica Mineirinho é, mesmo assim, um espaço narrativo privilegiado para o exame do tipo de estratégia narrativa que converte o exercício de pensar a diferença no enlace de coerência do relato. Com tal propósito, a análise alvitra e desenvolve a ideia de “sair para o outro” como instância heteronômica que permite ser cada um outro para ser outro cada um. Por último, incorpora-se à reflexão a ideia jurídico-afetiva de compaixão, entendida como o que do outro me pertence porque me afeta, ou seja, o que me compromete com ele. Em adendo, figuram críticas ao Direito penal do inimigo e propõem-se estímulos intelectuais desde a cultura literária do Direito em matéria de Teoria dos Direitos.Downloads
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